Dia e Hora

domingo, 11 de maio de 2008

Ímpar



Dizem que a gente se acostuma com as coisas. Eu acho que a gente se acostuma sim com o que é bom, mas com o que é ruim ninguém consegue. A gente se acostuma com uma casa nova, com tênis novo, com roupa nova, essas coisas. Mas se a casa estiver caindo aos pedaços, o tênis apertado, a roupa com aquela etiquetinha irritante que fica pegando no pescoço, aí a coisa complica.

Pois é, ultimamente ando passando demais por situações repetitivas e desagradáveis, e adoraria saber o por quê disso.

As pessoas levam foras, isso é normal. Mas levar foras sucessivos em intervalos de tempo relativamente curtos deve ser sinal de algum distúrbio. Ou de incompetência. Ou dos dois.

Não sou um modelo muito bom de menina, muito menos de mulher. Tenho dois cromossomos X, volumes e desvolumes nos lugares certos (talvez não numa proporção muito interessante, mas ainda assim estão nos lugares certos), hormônios certos também. Não pinto as unhas, nem as deixo crescer. Não uso batom, eles deixam a boca da gente estranha. Maquiagem bem esporadicamente. Não uso vestido com freqüência, adotei a saia há pouco tempo. Uso brincos. Anel, o último que eu usei foi uma aliança, e isso faz um certo tempo.

Concordo que isso não faz de mim uma pessoa muito interessante, são coisas nas quais eu preciso trabalhar. Mas ainda assim sempre fui adepta da frase que diz que toda panela tem sua tampa. Eu ainda brincava dizendo que então eu era uma frigideira, até que em um belo dia me disseram que frigideiras têm tampas. Aí eu decidi que itens de cozinha não são os melhores objetos para fazer esse tipo de comparação e parei com isso. Talvez frutas sejam mais bem sucedidas nesse quesito. Metade da laranja, do limão, da maçã, da pêra, do abacaxi, da salada de frutas inteira se você quiser. Também tem aquela história de que sempre há um sapato velho para um pé cansado, mas eu vou parar por aqui porque eu já nem sei mais aonde eu queria chegar com esse raciocínio.

Ah, sim, a história das tampas e das panelas. Então eu cheguei à conclusão de que eu não era uma panela, nem uma fruta, nem um pé cansado. Eu era uma coisa que não pareia e nem combina com nada, mas que eu não consigo pensar em nada agora pra exemplificar.

É sempre assim, simplesmente porque as coisas nunca dão certo. Se eu fosse uma fruta, aposto que teriam espremido minha outra metade e jogado fora sem eu saber (tá, eu sei, foi dramático, mas a vida é dramática mesmo). O ponto é que as pessoas não me querem. Por um motivo ou outro, é isso que acontece.

Talvez eu seja uma panela muito amassada. Ou uma fruta muito ruim que sofreu algum tipo de dano físico e agora não encaixa mais com a outra metade. Ou sei lá, alguma coisa que foi feita pra ficar sozinha mesmo. Mas apesar disso eu insisto em tentar achar o par de alguma coisa ímpar (no caso, eu) por aí. E cada vez que isso acontece eu me dou mal. Ruim? Claro né, desconfiar que você é rejeitada universalmente é uma coisa, ter uma confirmação formal disso varias vezes ao ano é completamente diferente. Mas a gente leva. Sei lá, talvez eu esteja simplesmente me acostumando.