Dia e Hora

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Folhas







Às vezes eu quero sumir. É, sumir. Puf,
desaparecer. E aí as pessoas nem iam sentir falta.
É como se eu fosse uma folha que cai de uma
árvore. Ela se desprende, cai, e as outras folhas
continuam a fazer suas coisas de folha sem se darem
conta de que uma delas se foi.

Às vezes eu também me sinto assim, como
uma folha. Não, isso não tem nada a ver com o fato
dela ser verde e fazer fotossíntese. Tem a ver com o
fato dela ser simplesmente mais uma folha, que não
faz diferença no meio de tantas outras folhas. Mais
uma que não chama a atenção, que não faz falta. Que
apesar de tentar se manter presa à arvore, é levada,
muitas vezes desumanamente (isso, claro, é uma figura
de linguagem, uma vez que estamos falando de folhas aqui) - talvez a melhor expressão seja
desfolhadamente. Isso, desfolhadamente – muitas vezes desfolhadamente, pelo vento.

Também acho que, assim como acontece com as folhas, as pessoas não me entendem
na maioria das vezes. Olham, pensam. É só uma folha. Olham, pensam de novo. Pensando
bem, até que é bem complicada, melhor nem tentar entender como isso aí funciona.
E também tem a história de ficar em segundo plano. É sempre assim, do lado da folha
tem uma flor e/ou ou um fruto. E essa flor e/ou fruto sempre chama mais atenção que a
folha. As pessoas olham para a flor e/ou o fruto e a folha fica ali, esquecida. Uma mera
coadjuvante.

Mas às vezes as pessoas olham para a folha. E esse seria um momento especialmente
feliz na vida de uma folha (considerando aqui que folhas possam ser felizes) se não fosse o
detalhe do motivo pelo qual a pobre folha foi observada. Não gosto de você, sua ponta é torta.
Ou então, você não combina com essa árvore. Aí arrancam a folha. Amassam, quebram,
rasgam, machucam. Assim, sem cerimônia, simplesmente porque sabem que as folhas não
podem sentir dor. Na verdade, acho que mesmo que não soubessem, as pessoas o fariam do
mesmo jeito. Mas é aí que eu me diferencio das folhas. Pelo menos, considerando a primeira
hipótese. Porque eu sinto dor. Dói, e talvez as pessoas em geral nem percebam isso
simplesmente porque, na maioria das vezes, eu não deixo que elas percebam.

E desse jeito eu vou vivendo minha vida folhesca, apenas esperando que em algum
belo dia de sol (mas eu não tenho nada contra a chuva também) alguém olhe para aquela folha
no meio de tantas outras folhas e a note. Talvez que arranque-a da árvore, mas que não a
rasgue nem amasse, nem cause nenhum outro tipo de dano físico e/ou moral à folha
(admitindo-se, dentro do possível, que folhas sejam capazes de receber insultos, claro). Que
simplesmente a guarde e que perceba que, de alguma forma, aquela folha tão comum e tão
igual a todas as outras folhas pode ser diferente e pode fazer diferença.